Playlist Poeticamente

sábado, 1 de março de 2014

Por aí, simplesmente

Você gosta de observar?
É uma simples pergunta, talvez, certo? Não pra mim. Pois me sinto dependente disso, do simples desafio de tentar todo o tempo entender onde estou, para que, por quê. É normal nos sentirmos assim, a partir do momento em que não nos rendemos ao que pode ser superficial talvez, certo?
Gosto de fotografar (entre muitas outras coisas). Mas gosto mesmo, gosto muito de fotografar. Gosto de fotografar pessoas, animais, situações festivas e, principalmente, paisagens. No caso desta última, uma paixão que não pode ser expressada simplesmente. Então vou fazer assim, não vou tentar. (Risos)
Eu estava há poucos dias, a caminho do trabalho, no caminho lendo um ótimo livro histórico, "1808" de Laurentino Gomes (podem ir por mim, um ótimo livro), e na saída do metrô, em Cidade Nova, no Rio de Janeiro, estava naquela maravilhosa passarela futurista de pedestres e ao passar pelas roletas, pude me deparar com uma cena fantástica, que enche o peito imediatamente daquela sensação gostosa de estar vivo. Então com todas as forças, vai o louco como uma criança no filme "Esqueceram de Mim" fazer travessuras e corro para a beirada da passarela a fim de ver melhor a cena. Perfeição. Sou louco por tudo isso. Talvez alguns devem ter pensado, é um estrangeiro, um brasileiro não daria atenção pra essas coisas, mas se enganaram, pois uma das coisas que amo no Brasil certamente é a visão que a natureza aqui proporciona. Eu então, puxei o iPod do bolso e parti para a foto (que mais tarde foi para o meu Facebook, claro).
Cidade Nova, Rio de Janeiro. Foto tirada no iPod Touch
Há algo interessante acontecendo ali. Uma pessoa está observando tudo também. O que tornou a foto algo a ser discutido poeticamente aqui. Então vamos lá.
"Eu não esperava nada. Eu não tinha nada interessante, nada que despertasse minha atenção, mesmo que efêmera, mesmo que pausada por tantos outros motivos sutis. Mas estava ali, era a perfeição inesperada do dia, algo surreal contido amorosamente em algo poderosamente natural, era tudo que eu não podia ignorar, mais do que eu podia conter abaixo desses céus profundos e misteriosos. Eu estava vivo, afinal. A gratidão invadia um lugar dentro de mim que decidira dormir e não mais acordar. Até aqui. Porque agora sei que é diferente, sei que nem sempre estaremos cercados pela solidão em que nos colocamos às vezes." 
Sabe, minha vontade foi descer lá, parar ao lado daquela pessoa, apertar sua mão e dizer: prazer, meu amigo, também estou vivo. Seria interessante se notasse que você às vezes está apressado, perseguindo tarefas e compromissos que, pelo menos hoje em dia, fazem você acreditar que não há espaço para mais nada, a não ser a solidão das obrigações. Quando resumimos nossas vidas às obrigações é simplesmente onde ficamos inseridos. Num lugar chamado solidão. É necessário também saborear sua humanidade. Tudo fica melhor assim. Eu tenho certeza que milhares de pessoas passaram com malas e celulares aos ouvidos ali, bem ali, onde eu estava, e também muitas dessas pessoas com um desejo no pensamento de que queriam se acalmar por um instante, mesmo um minuto, mas nem se davam conta de que está ao alcance delas, todos os dias, esse minuto. Eu estava estressado, pois estava tudo engarrafado por aí e também estava com dificuldades para chegar ao trabalho. Quinze minutos de atraso e ainda pegaria o segundo ônibus, que me faria chegar ao trabalho em mais outros quinze minutos. Mas diante daquela cena, um momento efêmero realmente, senti a pressão que todos os dias tenta me aprisionar, ir embora. Senti a liberdade, na verdade me dei conta disso, mais uma vez, algo que é preciso acontecer todos os dias, que eu estou vivo e tenho a dádiva da vida. Vou cumprir, sim, as tarefas de um cidadão, alguém inserido na sociedade, mas também não vou me envolver numa cegueira e, infelizmente... perder o melhor, as coisas que me fazem sentir um privilegiado. Esses pequenos momentos, no dia a dia, vêm de Deus, eu acredito mesmo nisso, para cada um de nós, para você, não importa quem você seja. É seu. Não perca. E não deixe sumir da sua visão.
Eu acredito que Deus é um grande poeta e acho isto tão estiloso, tão demais, que também decidi que quero ser um algum dia. Enquanto isto, vou registrando com fotografias, palavras, emoções, músicas, atuações, tantas coisas que amo fazer, poeticamente, tudo que esta poesia incessante, que nos rodeia diariamente, o que ela me desperta. E é algo muito bom. Sem tudo isto, eu sei que não existiria de verdade.
Eu quero deixar um abraço a você, que leu esta postagem. E que seja ela, também, um desses rápidos momentos no dia, que recuperam um pouco da autossatisfação (ah, obrigado, professor Márcio, por me ensinar a escrever este termo, numa manhã na minha amada faculdade UniCarioca, que pra mim já se tornou erudito desde então) que é capaz de nos resgatar, nos trazer de volta ao amoroso prazer da vida.

Alla'n Camargo














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